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28/09/21 Moradias, Racionalidade, Ludismo, Higiene Canina, Civilization

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28/09/21 Moradias, Racionalidade, Ludismo, Higiene Canina, Civilization

A crise de moradia é uma crise regulatória. A racionalidade de Steven Pinker. O lado ludita da história. Uma história social das fezes caninas. Trinta anos de Civilization.

Diogo G.R. Costa
Sep 28, 2021
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1. Um breve relatório da Casa Branca atesta que, pelos últimos 40 anos, a oferta imobiliária nos Estados Unidos ficou estrangulada enquanto a demanda cresceu. O crescimento habitacional não acompanhou o crescimento populacional, uma tendência de declínio que vem desde os anos 1970 e se agravou nos anos 2000. De 2006 a 2021, a quantidade de novas moradias em relação à população caiu em 39%.

Um dos remédios é a reforma das normas de zoneamento excludente das cidades americanas:

Uma das restrições mais persistentes e vinculantes sobre a oferta de moradias são as leis e práticas de zoneamento excludentes. Por décadas, essas leis inflaram os custos de moradia, mantendo famílias fora de áreas com mais oportunidades. Além de trabalhar com os governos estaduais e locais para reduzir essas restrições, o governo federal propõe a criação de um programa de incentivos que conceda financiamento flexível e atraente para jurisdições que tomem medidas concretas para reduzir as barreiras à produção de moradias populares.

https://www.whitehouse.gov/cea/blog/2021/09/01/alleviating-supply-constraints-in-the-housing-market/


2. Steven Pinker tem um novo livro, Rationality: Why It Seems Scarce and Why It Matters. O ser humano como animal racional parece algo tão démodé que esquecemos dos benefícios do raciocínio claro para a definição da sobrevivência e persistência humana há milênios.

Neste extrato do livro, Pinker traz exemplos do emprego da racionalidade no cotidiano de um dos povos mais antigos do mundo, os Sãs da África meridional. Os Sãs tomam decisões estratégicas sobre a caça e fazem deduções silogísticas sobre o mundo natural ao seu redor. Eles também são capazes de distinguir correlação de causalidade:

“Um rastreador, Boroh// xao, me disse que quando a [cotovia] canta, ela seca o solo, tornando as raízes boas para comer. Depois, !Nate e /Uase me disseram que Boroh// xao estava errado - não é o pássaro que seca o solo, é o sol que seca o solo. O pássaro está apenas dizendo a eles que o solo vai secar nos próximos meses e que essa é a época do ano em que as raízes ficam boas para comer.”

Parte do desafio do livro é trazer o aspecto normativo da racionalidade para um mundo que sobrevaloriza a espontaneidade, iluminar, com a autoridade da lógica, as sombras de um mundo em crise epistêmica:

devemos começar com as verdades fundamentais da própria racionalidade: as maneiras como um agente inteligente deve raciocinar, dados seus objetivos e o mundo em que vive. Esses modelos “normativos” vêm da lógica, da filosofia, da matemática e da inteligência artificial, e são nosso melhor entendimento da solução “correta” para um problema e como encontrá-la. Eles servem como uma aspiração para aqueles que querem ser racionais, o que deveria significar todos nós.

https://news.harvard.edu/gazette/story/2021/09/an-excerpt-from-steven-pinkers-latest-book-rationality/


3. Entendendo o ludismo no contexto atual. Tudo indica que Ned Ludd, o general por trás do exército ludita quebrando máquinas nos anos 1780, era uma criação fictícia. Ludd tinha o mesmo grau de existência de um Robin Hood. 

Hoje é fácil enxergar como os luditas estavam errados. As máquinas que eles queriam destruir eram o começo de uma época de progresso sem precedentes na história humana. Todos seriam beneficiados pela transformação das indústrias, com seus trens, e seus aviões e suas vacinas, e tanta comida que a obesidade se tornaria um problema maior do que a fome. E sim, aqueles empregos têxteis desapareceriam, mas dariam lugar a outros empregos melhores.

Ok, os luditas estavam do lado errado da história, mas depende de que história estamos falando. Se for da história pessoal, a história de vida deles e de suas famílias, pareceria racional sair marretando moinhos de algodão.

A verdade, porém, é que para os luditas, as coisas não melhoraram. Eles não melhoraram em suas vidas. As coisas nem mesmo melhoraram para seus filhos.

E a resposta econômica tradicional para isso é que esses problemas são temporários. A tecnologia melhora a vida de todos no longo prazo, mas uma das coisas que os luditas têm a nos ensinar é que o longo prazo pode ser muito, muito longo.

https://www.npr.org/transcripts/404701816


4. Uma história da higiene canina. Como as fezes dos cachorros foram de receitas médicas a problemas urbanos.

Alguns médicos até recomendavam [fezes caninas] para dores de garganta. Em 1899, o médico W.T. Fernie citou o conselho de Richard Boyle de 1696 de que "um remédio caseiro mas experiente para a dor de garganta [é] tomar cerca de um dracma de fezes brancas de cachorro, queimadas até a brancura perfeita e com cerca de 30 gramas de mel de rosas ou mel clarificado, o que faz um xarope para ser lentamente descido pela garganta."

Mais tarde, nos anos 1920, o sentimento para com as fezes caninas não era de alívio, mas de revolta. Havia indignação nas páginas do New York Times. Nas ruas, se tornava visível o contraste entre o progresso humano e o excremento animal:

A sujeira da mobília das ruas, destinada a melhorar a paisagem urbana e afirmar a modernidade de Nova York, enfraqueceu a fé dos residentes no progresso. O topo do poste poderia estar irradiando luz e civilização, mas sua base permanecia atolada em desperdício e atraso.

https://www.laphamsquarterly.org/roundtable/vast-latrine-dogs

5. Os 30 anos de Civilization, o jogo de estratégia de Sid Meier, contam a história da evolução dos jogos de computador como tecnologia, entretenimento e arte. Civilization foi o jogo que fez Zuckerberg querer entrar para a engenharia da computação. Meier manteve um branding de auteur individual mas sua biografia mostra a crescente colaboração social como a direção dos games, cada vez menos obras fechadas e cada vez mais works in progress contínuos.

Os designers de jogos querem impressionar os jogadores, Meier sabia, mas os jogadores querem eles próprios impressionar. “O jogo não deveria ser sobre nós”, escreve Meier - de Sid Meier’s Civilization - sem ironia. “O jogador deve ser a estrela e o designer o mais invisível possível.” Mas a ascensão do jogador estava prestes a acontecer de uma maneira que Meier não antecipava. Logo depois que Meier e Shelley circularam seu protótipo de Civilization, outros desenvolvedores da MicroProse começaram a jogar e a bater na porta de Meier. “E se os aquedutos evitassem incêndios, os celeiros evitassem a fome, as muralhas da cidade evitassem as inundações?” ele se lembra. “E se os faróis aumentassem a velocidade da sua marinha, mas de repente se tornassem obsoletos após o desenvolvimento do magnetismo?” Meier incorporou muitas dessas idéias e despachou o jogo, apenas para ser enterrado novamente sob as cartas de fãs com sugestões sobre o trabalho asteca com o bronze ou a velocidade das caravanas comerciais. “Civilization trouxe à tona o designer de jogo que habitava em todos nós”, escreve Meier.

Em 1996, a Internet pública estava em pleno vapor, e Meier entregava Civilization, e seu nome, a outros programadores. Brian Reynolds, um dos principais designers de Civilization II, seguiu o exemplo do jogo de tiro em primeira pessoa Doom e construiu uma backdoor que permitia aos fãs colocar novos sons, artes e até mesmo mecânicas no jogo. Meier ficou preocupado. “Eles provavelmente serão péssimos, pensei, e vão nos culpar por suas criações pouco inspiradas”, escreve ele. “E se por acaso eles forem bons, então tudo o que estaremos fazendo é acabar com nossos próprios empregos.” Mas Meier acabou percebendo que estava “errado em todos os aspectos”, escreve ele. “A força da comunidade de modding é, em vez disso, a razão pela qual a série sobreviveu.” E o motivo pelo qual o rótulo “Sid Meier” também vive.

(Cliquei no link esperando uma crítica woke desconstruindo Civilization. Fiquei positivamente surpreso por ser um comentário sobre autoria, tecnologia, diversão e cooperação humana.)

https://www.newyorker.com/books/under-review/sid-meier-and-the-meaning-of-civilization

Imagem Leah Gardner

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