27/09/21 Lixo, Astrologia, Xadrez, Interrupções, Progresso
Como não reciclar plástico. Como não criticar a astrologia. Xadrez feminino. Nem sempre é mal educado interromper a fala do outro. Estudos sobre progresso.
1. Para a série de consequências inesperadas. Parece que, nos EUA, o plástico descartado no lixo comum vai para aterros ecologicamente seguros. Quando cheios, esses aterros podem virar um parque ou um campo de golfe. Mas boa parte do plástico depositado no lixo reciclável é exportado para países que, sem capacidade de reciclagem, acabam por despejá-lo na natureza, nos rios e, por consequência, aumentando o tamanho das ilhas de lixo no oceano.
Quando estávamos enviando lixo para a China reciclar, eles despejavam 55% do nosso plástico em aterros a céu aberto ou em rios. Depois que a China proibiu as importações, começamos a enviá-lo para a Indonésia e o Vietnã, que procederam a despejar indevidamente mais de 80% do lixo.
2. Comentários sobre a crítica pós-colonial à astrologia. Ou, como as falhas de um livro crítico da astrologia faz um cético querer ler astrólogos que acreditem na astrologia.
Não deveria ser surpreendente que, em um livro sobre astrologia, quase todas as afirmações empíricas sejam falsas. O que é surpreendente é como poucas dessas falsidades têm algo a ver com astrologia. Se Sparkly Kat quisesse me dizer que estou preocupado com dinheiro porque a Lua está em minha segunda casa, eu ficaria feliz em ouvir. Mas ela não acredita que nossas vidas sejam governadas pelos movimentos dos planetas. Em vez disso, ela acredita que nossas vidas são governadas pelo patriarcado capitalista da supremacia branca.
Bem, eu também me oponho ao racismo, ao capitalismo e à subjugação das mulheres. Mas acho que abordo essas coisas de uma maneira ligeiramente diferente de Alice Sparkly Kat. Eu sou marxista. Eu os vejo como produtos da história. Mas, para Sparkly Kat e seus contemporâneos (os Robin DiAngelos, o Ibram X. Kendis), a própria história é apenas a pegada de algum monstro transcendental - a brancura ou o Ocidente - percorrendo o mundo. Até a Lua foi causada pela supremacia branca.
Alice Sparkly Kat não politizou a astrologia. Ela é um sintoma da astrologização da política.
https://www.firstthings.com/article/2021/10/how-to-believe-in-astrology
3. O xadrez deve manter campeonatos femininos como uma categoria segregada? Talvez se o mundo tiver mais Judit Polgars, que chegou à 8ª posição no ranking mundial no início desse século, essa questão seria reconsiderada.
Em outra geração, talvez saberemos se Polgar foi ou não historicamente única ou o início de uma tendência para as mulheres de topo.
Minha visão geral sobre torneios de xadrez exclusivos para mulheres: as pessoas organizam competições para se divertir, então, presumivelmente, os torneios de xadrez apenas para mulheres aumentam a diversão dos participantes, mais do que não ter torneios apenas para mulheres e as melhores mulheres acabarem perdendo repetidamente para os melhores homens.
O texto reflete sobre discrepâncias em jogos e esportes de modo mais abrangente. Até os anos 1970, o time campeão de futebol americano universitário, da NCAA, enfrentava o campeão da NFL em uma espécie de recopa. O time universitário perdia na maioria das vezes, mas nem sempre. E esse grau de imprevisibilidade mantinha o jogo interessante. Com o tempo a NFL foi se tornando tão gigante, e as finais contra a NCAA tão goleadas, que o jogo de recopa acabou. Que esse não seja o triste fim do mundial de clubes de futebol.
https://www.unz.com/isteve/the-right-to-women-only-chess-tournaments/
4. Os costumes da conversa humana apresentam desafios mais complexos do que observar duas ou três simples regras. Nem sempre é falta de educação começar a falar antes de outra pessoa terminar de falar. Acho que os bons entrevistadores sempre souberam disso.
Parece evidente. Começar a falar antes que outra pessoa termine viola o direito dela em usar a palavra. Em contextos formais, como debates políticos, viola as regras. Em uma conversa casual, é simplesmente mal educado.
Mas não é tão simples. Como lingüista que estuda a mecânica da conversa, observei e documentei que começar a falar enquanto outra pessoa está falando pode ser uma forma de demonstrar envolvimento entusiástico com o que o falante está dizendo. Longe de silenciar a pessoa, pode ser um incentivo para que ela continue. É uma prática que chamo de "sobreposição cooperativa".
5. Um bom apanhado da nova área de "estudos sobre progresso". Jason Crawford conversa sobre seu projeto, Works in Progress, e sobre o renascimento de uma cultura baseada no progresso humano.
Uma sociedade obtém o que valoriza. Quando paramos de valorizar o progresso, paramos de obtê-lo, mesmo que demore uma ou duas gerações para vermos todos os efeitos.
https://www.vox.com/future-perfect/22652782/roots-of-progress-jason-crawford
Imagem Alai Ganuza.