19/08/21 Pets de Apoio, Música Alta, Assobios, Rei Afegão, Apropriação Cultural
Animais de apoio emocional como armas de guerra cultural. Música muito alta. Línguas assobiadas. O não retorno do rei do Afeganistão. Em defesa da apropriação cultural.
1. Como as tendências culturais de nossa época levaram à multiplicação de animais de apoio emocional e à sua resistência - acompanhada da viralização de casos curiosos, como quando agentes de uma companhia aérea negaram a entrada de um pavão de apoio emocional no voo ou quando um porco de 36kg defecou nos corredores do avião. "O fato de termos permitido a proliferação de animais de apoio emocional nos diz muito sobre a natureza evolutiva do setor de direitos civis. Uma rede de ativistas, juízes e acadêmicos criou a base conceitual para identificar novas categorias de danos, todas derivando seu poder, em última instância, a partir da legislação usada para desmantelar a segregação legalizada na América. Uma rede de advogados e empreendedores médicos encontrou um nicho lucrativo ao se unir a um número crescente de americanos que se enxergam através do prisma da vitimização, o que, por sua vez, lhes confere status de proteção legal. No processo, essas redes se constituíram como um grupo de interesse."
2. Uma argumentação em favor de ouvir música bem alta. "Parece que amamos vozes quebradas: cordas vocais corroídas por uísque e gritos, vozes que distorcem, danificam, mas que não morrem de verdade... Com a tecnologia avançada como está, o único ponto final possível dessa escalada é o limite de resistência humana. E é aqui que a distorção/volume como metáfora se encontra com o fenômeno médico. Quando a dor acústica ocorre no teatro do rock, a dor do público é compensada por seu prazer no espetáculo do sacrifício dos músicos." https://lithub.com/marc-ribot-makes-the-case-for-loud-music
3. Se você nunca se encantou com as línguas assobiadas lendo Daniel Everett, essa é a sua oportunidade de encantamento - com a vantagem dos assobios virem em áudio e vídeo. "As línguas assobiadas quase sempre são desenvolvidas por culturas tradicionais que vivem em terrenos montanhosos, acidentados ou em florestas densas. Isso porque a fala assobiada vai muito além da fala comum ou dos gritos. Assobiadores habilidosos podem chegar a 120 decibéis - mais alto do que a buzina de um carro - e seus apitos embalam a maior parte dessa potência em uma faixa de frequência de 1 a 4 kHz, que está acima do tom da maioria dos ruídos do ambiente. Como resultado, a fala assobiada pode ser entendida até 10 vezes mais longe do que o grito humano." https://knowablemagazine.org/article/mind/2021/whistled-languages
4. Como a restauração da monarquia poderia ter mudado a história do Afeganistão, se não fossem os vieses republicanos dos americanos. "As coisas pareciam promissoras para um retorno do rei. Mas a Inteligência do Paquistão, o ISI, estava desconfortável com a perspectiva de haver um moderado no poder no Afeganistão e estava ainda menos feliz ainda com a perspectiva de um rei pashtun, tendo apoio dos Tajiks, Uzbeks e da Hazara dominada pela Aliança do Norte, com poder político." https://thecritic.co.uk/could-monarchy-have-saved-afghanistan/
5. Por que o conceito de apropriação cultural não é apenas iliberal, mas também impraticável como uma espécie de propriedade intelectual coletiva de determinadas linhagens genéticas. "As pessoas provavelmente estão começando a perceber intuitivamente que um mundo onde os indivíduos não são livres para publicar qualquer tipo de livro de receitas que gostem é muito mais constrangedor e desconfortável do que uma democracia liberal deveria ser. Oportunistas da indignação destruindo os meios de subsistência de pessoas que se desviaram dos limites raciais/culturais ancestrais que a própria turba lhes atribui não são os fiadores de uma boa sociedade... O fato de grupos raciais e étnicos não serem organizações bem definidas significa que é impossível lidar com eles em um sistema jurídico da forma como lidamos atualmente com os indivíduos. Assim, na prática, tanto a definição quanto a aplicação dos direitos de propriedade coletiva cultural serão feitas fora do sistema judicial. Serão feitas pelas turbas do Twitter, como acontece hoje."
Imagem Alai Ganuza