14/10/21 Imigração, Guru Chinês, Feminização, Orwell, Oceanos
Fronteiras Abertas. O intelectual público mais influente do mundo? A grande feminização. Orwell sobre tribalismo. Profundezas oceânicas.
1. Uma resenha do livro em quadrinhos Open Borders de Bryan Caplan. A mais cuidadosa que li até agora.
O argumento de Caplan não faz reservas. Desde que não violem direitos alheios, as pessoas devem tomar decisões sobre suas vidas sem restrições. E migrar para outro país é uma dessas decisões. Além de que a imigração melhora a alocação de trabalho e empreendedorismo no mundo, gerando grandes aumentos de produtividade. Um nigeriano que se muda para um país com melhores instituições como os EUA aumenta sua renda em dez vezes. E a diminuição de renda para os trabalhadores locais é na pior das hipóteses pequenas e temporárias. Apesar disso, a norma global é mais pró restrição do que pró migração.
Mas os trechos mais interessantes da resenha são as partes críticas e as identificações de lacunas.
Em nenhum momento Caplan aborda os danos ambientais das fronteiras abertas. Transferir pessoas de países pobres de baixa emissão para países ricos de alta emissão levaria a uma aceleração bastante dramática nas emissões globais de carbono. Reconhecidamente, manter a maior parte do mundo pobre é uma estratégia terrível para enfrentar a mudança climática, mas existem alguns problemas climáticos que você pode querer resolver primeiro, antes de defender a abertura de fronteiras. Estou confiante de que Caplan refletiu e chegou à conclusão de que não há problemas climáticos que possamos resolver em um curto espaço de tempo para justificar os danos causados pelo adiamento da abertura das fronteiras, mas ele não mostra como chegou a essa conclusão. Às vezes, a mudança climática é usada como uma desculpa para se opor a quase qualquer progresso social. Isto é lamentável. Mas “fronteiras abertas criariam um problema gigantesco, ou seja, uma mudança climática massivamente acelerada, mas os benefícios superam os danos” não foi o argumento que tirei do livro. O argumento que tirei foi “fronteiras abertas são tão boas e as objeções não importam tanto.”
https://www.lesswrong.com/posts/R2nQzjduu2mNogCQM/book-review-open-borders
2. Talvez o intelectual público mais influente do mundo seja Wang Huning, o guru por trás das profundas transformações por que passa a China.
Essa transformação está ocorrendo em duas linhas paralelas: uma vasta repressão regulatória que turva a economia do setor privado e um esforço moralista mais amplo para reengenharia da cultura chinesa de cima para baixo.
É por isso que as investigações antimonopólio atingiram as principais empresas de tecnologia da China com bilhões de dólares em multas e reestruturações forçadas e novas regras de dados estritas limitaram as empresas chinesas de internet e mídia social.
E é por isso que celebridades como Zhao Wei estão desaparecendo, por que adolescentes chineses foram proibidos de jogar o "ópio espiritual" dos videogames por mais de três horas por semana, por que grupos LGBT foram eliminados da internet e por que as restrições ao aborto foram foi significativamente apertadas. O objetivo da "profunda transformação" de Xi é garantir que "o mercado cultural não seja mais um paraíso para celebridades maricas, e as notícias e a opinião pública não estarão mais em posição de idolatrar a cultura ocidental".
https://palladiummag.com/2021/10/11/the-triumph-and-terror-of-wang-huning
3. O presente já é feminino. Nos EUA, de 1950 para 2000, a porcentagem de mulheres em idade ativa na força de trabalho foi de cerca de 30% para 60%, se equiparando à participação masculina, que vem declinando desde os anos 1950. O século 20 foi a primeira vez que se teve registro histórico dessa inclusão econômica em uma grande sociedade humana. O significado desse avanço ainda não foi completamente apreendido pelas pessoas, mas o texto sugere que algumas mudanças sociais decorrem em parte dessa feminização histórica, incluindo:
Programas de bem-estar mais generosos
Expansão do conceito de bem-estar para incluir mais tipos de intervenção (ação afirmativa, etc.) e mais grupos que precisam de intervenção
Expansão das definições de "dano", "ofensa" e "trauma" ("microagressões", "gatilhos")
Maior atenção ao trauma psicológico na lei e na medicina, levando a uma maior aceitação e, portanto, a uma maior prevalência de síndromes relacionadas a traumas, como PTSD
Menor tolerância com mortes na guerra; mas, ironicamente, uma maior inclinação para entrar em conflitos estrangeiros em resposta a atrocidades que evocam emoções, retratadas na televisão.
https://thoughtsofstone.com/the-great-feminization/
4. O ensaio de George Orwell sobre nacionalismo, escrito em 1945, encontra ressonância nos ouvidos contemporâneos. Especialmente pela definição de nacionalismo, uma emoção que não se restringe a um país ou etnia, a uma raça ou área geográfica. Orwell escreve que usa "nacionalismo" por falta de uma palavra melhor, mas hoje podemos ler o texto com mais clareza substituindo "nacionalismo" por "tribalismo".
Por "nacionalismo", quero dizer, em primeiro lugar, o hábito de presumir que os seres humanos podem ser classificados como insetos e que blocos inteiros de milhões ou dezenas de milhões de pessoas podem ser rotulados com segurança de "boas" ou "más". Mas em segundo lugar - e isso é muito mais importante - refiro-me ao hábito de se identificar com uma única nação ou outra unidade, colocando-a além do bem e do mal e não reconhecendo outro dever senão o de defender seus interesses.
5. Um mergulho pelas profundezas dos oceanos por meio de rolagem de tela.
Imagem Sosa