07/05/21
As patentes não são o problema da vacinação global. Os bolsos da sua calça são um problema de dependência de trajetória. Como um RPG à base de GPT-3 produziu esquisitices à base de pornografia. A colonização anglo-woke nas universidades holandesas. A Muji fabrica casas com cara de Muji.
1. Os gargalos da vacinação global não se resolvem simplesmente com renúncia às patentes. Transferências de tecnologia de produção de insumos acessórios constituem as principais barreiras a serem transpostas para o ganho de escala que o mundo precisa. O que não falta é licença para produção de vacinas. "A AstraZeneca licenciou sua vacina para produção com fabricantes em todo o mundo, incluindo Índia, Brasil, México, Argentina, China e África do Sul. A vacina da J&J foi licenciada para produção por várias empresas nos Estados Unidos, bem como na Espanha, África do Sul e França. O Sputnik foi licenciado para produção por empresas na Índia, China, Coreia do Sul e no Brasil e pendente da aprovação da EMA com empresas na Alemanha e França. A Sinopharm foi licenciada nos Emirados Árabes Unidos, Egito e Bangladesh. A Novavax licenciou a sua vacina para produção na Coreia do Sul, Índia e Japão." Nenhuma dessas licenças resolve, por si só, os pontos de enforcamento nas cadeias de produção quando "sacolas plásticas são um gargalo maior do que as patentes". Abolir patentes "não irá fornecer mais dos principais materiais de filtragem necessários para a produção." O gargalo de transferência de tecnologia deve ser ainda maior. As dificuldades da AstraZeneca em alcançar um nível de produção desejável com seus parceiros internacionais mostra o tamanho do desafio. Quanto mais nova a tecnologia, mais difícil é sua transferência. As fábricas de vacinas de mRNA tiveram que ser construídas do zero. Adotar uma tecnologia tão inovadora não se resume a uma questão de mudar os inputs da linha de produção existente. Moderna e Pfizer continuam aprendendo dia após dia como funciona a sua tecnologia de produção. "Por que você acha que a China ainda não produziu uma vacina de mRNA? Dica: não é por medo de violar PI." https://marginalrevolution.com/marginalrevolution/2021/05/ip-is-not-the-constraint.html
2. Enquanto você tá aí sentado, tem gente pensando obsessivamente sobre como melhorar o design dos bolsos da sua calça - sem cair na armadilha das calças cargo. "Muitos de nós passam a maior parte do tempo sentados, mas todos os quatro bolsos tradicionais ficam totalmente inacessíveis nessa posição. Então, tiramos nosso telefone do bolso, por precaução, antes de nos sentarmos no restaurante - garantindo uma distração." https://sambleckley.com/writing/pockets.html
3. O AI Dungeon, um RPG alimentado por inteligência artificial, virou um gerador de ficções pornográficas. O algoritmo do GPT-3 começou a gerar enredos perturbadores, inclusive com "cenas de sexo envolvendo crianças". Nenhuma das soluções de moderação parecem ser capazes de moralizar o GPT-3 sem cercear a criatividade e a imprevisibilidade que compõem a receita mágica do gerador de texto. No fundo, uma interessante prévia dos problemas futuros de censura e liberdade de expressão de inteligências artificiais. https://www.wired.com/story/ai-fueled-dungeon-game-got-much-darker/
4. Enfim, temos um artigo em holandês. A colonização anglo-woke das universidades europeias continua como tragicomédia. Acadêmicos egressos de Harvard e Oxford, com suas publicações no CV e seu inglês impecável na boca, conseguem derrotar os locais pelas vagas nas universidades holandesas. “Uma vez contratados, esses expatriados acadêmicos muitas vezes acabam não sendo tão brilhantes quanto se esperava, mas muitos se envolvem com os meandros da universidade - em reuniões de conselhos, por exemplo, onde todos de repente precisam falar inglês. A relutância deles em aprender holandês é rude, mas também é uma vantagem: em inglês fluente, eles sabem como intimidar e sobrecarregar seus colegas holandeses com todos os tipos de exigências 'woke'." (via Alexandre Afonso) https://www.ewmagazine.nl/nederland/opinie/2021/05/de-plaag-van-woke-expats-op-universiteiten-231272w/
5. Talvez você conheça a Muji, a marca sem branding japonesa. Mas você não deve saber que, além de vender organizadores descoloridos para sua casa, a Muji também fabrica casas. A mais nova - minimalista, horizontal, aberta e desparedada - sai por US$ 150k. É uma construção "projetada para atender todas as gerações, mas tendo em mente as necessidades especiais da população idosa. Batizada de "Yō no Ie House" ("Plain House"), a estrutura favorece a mobilidade de seus residentes, eliminando qualquer problema que possa representar um obstáculo ao movimento.” https://www.domusweb.it/en/architecture/gallery/2020/01/21/mujis-new-prefab-house-looks-at-aging-population.html
Imagem @noahverrier